Em um momento histórico no qual começamos a sentir os resultados de um longo processo de industrialização e urbanização veloz e predatório, é necessário pensar e produzir espaços que estejam aptos a se readaptar a novas realidades. A partir dessa necessidade surgem conceitos que podem nortear a transformação e produção de cidades futuras.
O estilo de vida da modernidade, bem como a vida urbana, vêm apresentando a necessidade de se adaptar a novas demandas, sejam ambientais, espaciais, climáticas ou sociais. O aquecimento global, e todas as outras crises mundiais, apontam a necessidade de repensar os modos de vida em sociedade, tanto para o futuro quanto no presente. Desde que se instauraram enquanto forma dominante de habitar, muitas cidades lidam com acontecimentos conflituosos, mostrando que é necessário pensarmos em cidades que tenham a habilidade de se regenerarem em conflitos naturais, econômicos e políticos.
Uma cidade resiliente é uma cidade que apresenta a capacidade de resistir e se regenerar após situações adversas de qualquer natureza. Etimologicamente, o termo resiliência deriva da palavra latina resilio, que significa recuperar. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), resiliência urbana significa a capacidade de um sistema urbano de absorver, recuperar e se preparar para choques futuros. É a habilidade que as cidades têm de adaptar ou transformar rapidamente suas funções diante de um distúrbio que limite suas possibilidades. Com o objetivo de sobrevivência desse modo de habitar, cidades resilientes têm capacidade de resposta e reinvenção diante de adversidades.
A partir do planejamento urbano, de políticas públicas e de uma atuação ativa dos poderes governamentais locais, as cidades resilientes tomam ações específicas buscando garantir uma dinâmica social e econômica mais estável e, por consequência, maior qualidade de vida para a população. A OECD afirma que há quatro frentes que impulsionam a resiliência em uma cidade: economia, meio ambiente, sociedade e administração pública, sendo que cada realidade é diferente e precisa ser tratada dentro de suas especificidades.
Apesar de ser um conceito recente nos estudos de urbanismo, a ideia é reconhecer nas cidades problemas atuais e futuros e atuar em frentes amplas visando transformar o futuro. Um exemplo disso, de acordo com a OECD, é a cidade de Belo Horizonte que com seus mais de 2 milhões de habitantes apresentava uma grande taxa de pessoas em estado de vulnerabilidade por residirem em zonas de risco de enchentes e deslizamento de terra. A partir desse problema a cidade brasileira estabeleceu uma série de medidas em diferentes áreas buscando resolver essa situação.
Entendendo o problema enquanto questão social, econômica e ambiental — e compreendendo que é obrigação do governo intervir para garantir os direitos da população —, Belo Horizonte investiu em políticas públicas visando a mitigação dos riscos geológicos, além também de investir em iniciativas inclusivas e construir uma rede ativa de cidadãos atentos aos riscos climáticos e às medidas de proteção e cuidado. Além disso, a cidade incentivou a diversificação de sua economia e buscou construir uma política mais integrada com outras escalas de governo como, por exemplo, a área habitacional.
Historicamente, as cidades têm encontrado formas de sobreviver e ultrapassar eventos conflituosos, como as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, que se recriaram após o bombardeio nuclear realizado pelos Estados Unidos que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, compreendemos a importância de atuar em diferentes frentes para se transformar as cidades e investir em estratégias que busquem mudanças a longo prazo, criando formas de sobrevivência no futuro.